Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada seis pessoas entre 10 e 19 anos enfrenta algum transtorno mental, sendo a depressão, os transtornos de ansiedade, o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o transtorno do espectro autista (TEA) os mais comuns. Lamentavelmente, a maioria desses casos não é detectada nem tratada adequadamente.
Um boletim epidemiológico do Ministério da Saúde divulgado em setembro de 2022, destacou um aumento preocupante nos casos de suicídio entre os jovens, no período de 2016 a 2021: 49,3%, na faixa etária de 15 a 19 anos; e 45%, entre 10 e 14 anos.
"Estar bem-informado e atento aos sinais de que alguma está errada com a saúde mental da criança e do adolescente contribui para um melhor prognóstico”, afirma Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Ele destaca a importância de conversar com a criança, ouvir o que ela está sentindo e criar um ambiente em que se sinta segura para expressar seus sentimentos. “Quanto mais cedo buscar ajuda e tratamento, melhor será o prognóstico e a qualidade de vida da criança e do adolescente", completa Geraldo.
Pesquisa realizada pela ABP mostra que 72% dos pais e responsáveis afirmaram já terem percebido nos filhos algum comportamento que causasse preocupação. O estudo foi realizado com pessoas de 25 estados brasileiros, de todas as regiões do país, e revelou que o tema da saúde mental está presente nos lares brasileiros:
80,3% dos pais e responsáveis responderam já ter falado sobre o assunto em casa; 63% disseram já ter sido abordados pelos filhos para falar sobre saúde mental.
Segundo a entidade, as campanhas de conscientização sobre saúde mental têm gerado impacto positivo, promovendo um diálogo aberto entre pais e filhos. Porém, apesar dos avanços, ainda há muito trabalho a ser feito para reduzir os números alarmantes de suicídio no Brasil.
A cartilha "Como falar sobre saúde mental com crianças e adolescentes", produzida pela ABP, faz parte das ações da campanha Setembro Amarelo, que busca ampliar a conscientização sobre o assunto.
O material tem como intuito orientar os pais e responsáveis no momento da conversa com os filhos, e visa fortalecer mensagens importantes sobre o cuidado com a saúde mental para essa faixa etária.
Abaixo, seguem dicas da Associação Brasileira de Psiquiatria para abordar o tema de forma eficaz:
1. Use uma linguagem simples e clara:
Adapte sua linguagem à idade.
Evite termos técnicos e explique conceitos de forma que a criança possa entender.
2. Seja aberto e acessível:
Crie um ambiente onde a criança se sinta segura para falar sobre seus sentimentos sem medo de julgamento.
3. Use exemplos concretos:
Utilize histórias, livros, filmes, desenhos para ilustrar pontos sobre saúde mental. Isso ajuda muito a tornar o assunto mais compreensível para a idade de seu filho.
4. Normalize os sentimentos:
Explique que é normal sentir emoções como tristeza, raiva e alegria. Mostre que todos passam por momentos difíceis.
5. Ensine estratégias de enfrentamento:
Dê à criança ou ao adolescente ferramentas práticas para lidar com suas emoções, como respiração profunda, contagem até dez ou falar com um adulto de confiança. Em caso de dúvida sobre como fazer, procure um profissional de saúde.
6. Incentive a expressão emocional:
Encoraje a criança ou o adolescente a falar sobre como se sente ou a expressar seus sentimentos através de desenhos, brincadeiras ou escrita.
7. Seja um exemplo:
Demonstre como você lida com suas próprias emoções de forma saudável. As crianças e os adolescentes aprendem muito observando os adultos. Fale sobre suas emoções, demonstre para seu filho, que estas emoções podem acontecer com todos.
8. Esteja atento aos sinais:
Preste atenção ao comportamento da criança. Mudanças repentinas podem indicar que ela está enfrentando dificuldades emocionais e precisa de apoio profissional.
9. Promova a autoestima:
Reforce as qualidades e conquistas da criança, ajudando-a a desenvolver uma autoimagem positiva. Sempre destaque positivamente cada conquista que seu filho teve, especialmente aquelas que para ele eram muito difíceis. Isto ajudará
a criança a ser mais confiante e assertiva.
10. Busque ajuda profissional se necessário:
Se a criança estiver enfrentando problemas persistentes ou graves, considere consultar um psiquiatra com Registro de Qualificação de Especialidade em Psiquiatria da Infância e Adolescência.
Abordar a saúde mental de forma cuidadosa e proativa pode ajudar as crianças a desenvolver ferramentas saudáveis para lidarem com seus senti mentos, promover inteligência emocional e enfrentar melhor os desafios ao longo da vida.
A escola pode e deve ser uma parceira em todos os momentos. Converse com a coordenação e a orientação pedagógica e peça ajuda sempre que necessário.
A cartilha também traz sugestões de como adaptar a conversa de acordo com a faixa etária da criança, e o que fazer após o diálogo. Para saber mais, acesse o conteúdo Como falar sobre saúde mental com crianças e adolescentes.