Cuidados com a Saúde
Adolescentes sofrem com a síndrome da FoMO, o medo de ficar de fora
Canguru News
A hiperconexão digital leva a um agravamento das questões de saúde mental nos jovens

Apoio emocional e limites claros são essenciais no uso das redes sociais por crianças e adolescentes
Com o aumento da exposição digital, principalmente entre os mais jovens, e a elevação dos índices de ansiedade e depressão, a FoMO tornou-se um tema central nas discussões sobre os efeitos psicológicos do uso excessivo das redes sociais.
A Síndrome de FoMO (sigla em inglês para Fear of Missing Out ou "medo de estar perdendo algo") é um fenômeno psicológico que provoca uma constante sensação de ansiedade ou inquietação por receio de estar perdendo algo importante em diferentes situações, mas, em especial, no ambiente digital. Quem sofre da síndrome pensa, equivocadamente, que não está conseguindo acompanhar as atualizações e eventos online, e acredita que as outras pessoas estão vivendo experiências melhores, mais divertidas ou gratificantes por ficarem mais tempo conectadas. Esses usuários criam uma rotina de checagem constante, o que leva ao surgimento de sintomas como irritação e nervosismo e, consequentemente, pode gerar um agravamento de questões de saúde mental.
Estudo da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, divulgado no início deste ano, revelou que 62% dos jovens brasileiros relataram sentimentos de tristeza ou ansiedade após longos períodos conectados em plataformas sociais — especialmente ao consumir conteúdos ligados a padrões de beleza, estilo de vida e conquistas profissionais.
Segundo a neuropsicóloga Adriana Sanged Durante, há um conjunto de fatores emocionais, comportamentais e até neurológicos por trás desse comportamento. "Muitos acabam conectando sua autoestima ao número de curtidas, comentários e seguidores que recebem, como se o valor pessoal estivesse medido ali, nas reações das outras pessoas", explica Adriana, que é docente da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (ESAMC) de Jundiaí (SP).
A especialista relata que a FoMO faz com que os jovens confiram compulsivamente as redes, como se precisassem estar sempre atualizados, mesmo que isso custe o tempo real, o descanso ou até a paz mental. “É uma demanda silenciosa que pesa, sem que muitos sequer percebam o quanto estão sendo afetados", completa.
Apesar da ampla interação virtual, muitos jovens têm se afastado do convívio presencial sem perceber. Acham que estão mantendo vínculos saudáveis, mas, na prática, vivem uma falsa sensação de segurança emocional, destaca a neuropsicóloga.
"É essencial que pais e responsáveis estabeleçam limites de tempo de tela, com pausas planejadas e um uso mais consciente das redes. Também vale incentivar atividades presenciais, como esportes, arte, rodas de leitura, encontros com amigos e família — tudo que possa reconectar com o mundo fora da internet", orienta Adriana.
Ela explica que há diferentes abordagens terapêuticas eficazes para ajudar os jovens a encontrarem um equilíbrio mais saudável entre o digital e o presencial. Entre elas, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que atua na identificação e na reestruturação de pensamentos distorcidos, como a constante comparação com os outros, a necessidade de validação externa e a sensação de inadequação.
Outro ponto fundamental é a participação ativa da família no processo terapêutico. “Um ambiente acolhedor, com apoio emocional e limites bem definidos, pode ser decisivo para a recuperação do bem-estar emocional dos adolescentes. Práticas complementares, como a meditação e a adoção de atividades offline, também são indicadas para promover o equilíbrio emocional e reduzir a dependência digital”, sugere.
Para Adriana, é fundamental que as plataformas digitais possam ser responsabilizadas por conteúdos prejudiciais publicados por usuários, em casos como discurso de ódio e fake news. "Essas plataformas têm grande influência sobre o comportamento e a saúde emocional de crianças e adolescentes, ainda em fase de desenvolvimento. Apesar de já haver iniciativas nesse sentido, as mudanças seguem ocorrendo de forma lenta", alerta a especialista.