Surto de gripe em São Paulo: crescem casos em crianças e adultos

Febre acima de 39°C e quadros de vômito, diarreia e dificuldade respiratória estão entre os principais sintomas da gripe influenza, explicam pediatras

Por: Amanda Nunes Moraes e Verônica Fraidenraich/Canguru News

Comum entre os meses de maio e agosto, surto de gripe é atípico nesta época do ano, dizem especialistas

Assim como no Rio de Janeiro, que vive uma epidemia do vírus influenza A, estados como Bahia, Espírito Santo, Amazonas e São Paulo também veem crescer o número de casos de gripe em crianças e adultos nas últimas semanas.

Hospitais públicos e particulares da capital paulista confirmam o aumento de atendimento a pessoas com sintomas gripais e, em alguns deles, a presença do vírus H3N2, um subtipo do vírus influenza A, que está em circulação no Rio.

“Em São Paulo, já estamos vendo em grande aumento de casos de influenza H3N2, o vírus pode chegar em todo o Brasil”, diz a pediatra, educadora parental e nefrologista infantil Marcela Noronha.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, foram registrados 111.949 atendimentos de casos de síndrome gripal em novembro na cidade, sendo que dezembro, em 15 dias, já apresenta 91.882 atendimentos. Cerca de metade dos casos, em ambos os meses, são de suspeita de Covid.

Entre as queixas mais comuns provocadas pelo vírus H3N2 estão febre alta, dor de cabeça, dores nas articulações, nariz entupido, garganta inflamada e tosse. “Em crianças, a febre tende a ser mais alta do que nos adultos, com mais de 39°C. Elas também podem apresentar quadros de vômito, diarreia e até dificuldade respiratória”, aponta Patrícia Rezende, pediatra do Grupo Prontobaby.

Segundo especialistas da saúde, este aumento de casos de influenza ocorre fora de época, já que o pico das infecções dos vírus respiratórios acontece entre maio e agosto. Para Patrícia Rezende, o isolamento social, exigido pela pandemia do coronavírus, contribuiu para conter também a circulação do influenza, mas o afrouxamento das medidas fez com que esse vírus voltasse a circular com mais força neste momento, já que houve uma maior liberação das regras de prevenção nos últimos meses. “As crianças voltaram à escola e os pais ao trabalho. As medidas de prevenção da influenza são as mesmas que as da Covid: distanciamento social, uso de máscaras e higienização. Se os casos de gripe estão aumentando, é porque essas medidas não estão sendo seguidas com tanto rigor”, explica a médica.

Marcela Noronha diz que recentemente houve uma alta nos casos de influenza do tipo H3N2 principalmente nos Estados Unidos. “É provável que esta cepa tenha vindo do hemisfério norte, onde já tinha bastante casos”, diz a médica, que também é colunista da Canguru News.

Vacina da gripe

A vacina oferecida nos postos de saúde pública contra a gripe tem em sua composição a cepa H3N2, porém, ela é diferente da que circula agora no Rio e em São Paulo. Chamada de Darwin, em referência à cidade na Austrália onde foi inicialmente identificada, ela não está coberta pela atual vacina.

A vacina oferecida a crianças e adultos nos programas de imunização muda todos os anos e para 2022 a Organização Mundial da Saúde (OMS) já prevê incluir o subtipo H3N2 Darwin do vírus influenza. Essa vacina porém não estará disponível antes de março. E especialistas ressaltam que mesmo que a vacina deste ano tivesse a cepa Darwin, a imunização contra vírus respiratório não dura mais do que seis meses. O melhor a ser feito agora portanto é seguir usando máscaras e manter distanciamento social.

Diferenças entre Covid e influenza A

No geral, o vírus H3N2 não provoca tantas mortes quanto a Covid-19, se comparados os mesmos grupos de risco. Contudo, os sintomas clínicos do influenza, mesmo que leves, são piores do que os da Covid leve e podem incluir febre alta, calafrios, mialgia, dor de cabeça, mal-estar, falta de apetite e dificuldade para se levantar da cama.

Também é possível que a influenza evolua para quadros mais graves. “Cada organismo se comporta de um jeito com o vírus. Pode ser uma gripe mais leve, em que as crianças ficam bem, ficam ativas, ou pode ser uma gripe mais grave, em que elas podem até ter insuficiência respiratória e precisar de suporte de oxigênio”, relata Marcela Noronha. Se isso ocorrer, é importante que os pais busquem atendimento médico.

Cuidados a tomar com as crianças

Normalmente, as crianças levam aproximadamente 10 a 14 dias para se recuperar completamente da gripe, mas isso pode variar, como explica Noronha. “São uns três dias de febre e sete a dez dias de tosse, mas pode mudar muito, não tem um número mágico. Algumas vão tossir mais tempo, outras vão ter febre mais tempo. Cada indivíduo é único no seu sistema imunológico e vai responder ao vírus de uma forma diferente”, diz.

No entanto, existem algumas práticas que podem ajudar na recuperação da gripe e deixar as crianças mais confortáveis. “É fundamental manter a criança bem hidratada. Remédios antitérmicos podem aliviar sintomas de febre, mas é preciso tomar cuidado entre as doses, evitando fazer uma super dosagem”, afirma Patrícia Rezende. Lavar o nariz com soro também é muito importante, segundo Marcela Noronha, pois muitas vezes a criança não sabe assoar o nariz e isso ajuda a melhorar a tosse. Fazer inalação também pode trazer mais bem estar para os pequenos.

Para Patrícia Rezende, os pais não devem correr para a emergência nos primeiros sintomas, principalmente neste momento em que os hospitais são ambientes de alto contágio. “Primeiro faça contato com um pediatra. Se a criança não tiver sintomas graves, é só manter os cuidados em casa”, destaca a médica. 

Atenção a estes sintomas

Mas existem alguns sintomas que devem ser observados com atenção. “Se está fora do período de febre e a criança está muito prostrada, não quer fazer nada, está muito largadinha, ou com uma respiração muito ofegante, é preciso levá-la para um médico para que ela seja avaliada”, relata Marcela Noronha. O desconforto respiratório é um sintoma muito grave que não deve ser ignorado. “A dificuldade para respirar pode ser notada quando a barriguinha está entrando muito na respiração, por exemplo”, acrescenta Patrícia Rezende.

Segundo as especialistas, os pais não precisam ficar alarmados em relação ao influenza, o importante é que continuem seguindo o distanciamento social, uso de máscaras, higienização e outras medidas de prevenção já utilizadas contra a Covid-19. “Lavar o nariz com soro duas ou três vezes por dia é ótimo, pois estudos mostram que isso pode diminuir a quantidade de infecções de vias aéreas superiores altas, como a gripe”, ressalta Marcela Noronha. Além disso, é essencial manter os ambientes ventilados, evitar aglomerações e não levar as crianças gripadas para a escola, realizando o isolamento social. “Aquelas boas práticas que a Covid-19 nos ensinou realmente são muito efetivas”, adiciona a pediatra.

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