Um pet na pandemia: como os animais de estimação podem ajudar as crianças.

Especialistas comentam sobre os benefícios de adotar um bichinho durante o isolamento social.

Por: Amanda Nunes Moraes

O Brasil conta com a segunda maior população pet do mundo, segundo a Comissão de Animais de Companhia

Com uma filha de sete anos e uma rotina profissional intensa, Mariana Coelho achou que a quarentena seria o momento ideal para adotar um companheiro de quatro patas. Em agosto de 2020, adotaram o Figo, um vira-lata orelhudo e de pernas curtas. “A conexão entre minha filha e o cachorro é impressionante, eles se adoram. São as duas crianças da casa, eles brincam juntos o tempo todo”, relata Mariana. “Sem dúvida nenhuma, o Figo deixou o ambiente da casa mais alegre e aliviou o estresse da pandemia.”

A pandemia levou muitas pessoas como Mariana a procurarem pets para aliviar o vazio do isolamento social e amenizar o estresse das crianças. A ONG Vira Patas, de São Paulo, relatou que houve um grande aumento de adoções durante a quarentena em relação aos outros anos. De maio de 2020 até abril de 2021, registrou mais de 200 adoções de cães e gatos, tanto filhotes quanto adultos. Este não é um caso isolado, pois diversas outras instituições reportaram a alta demanda. De acordo com pesquisa realizada em julho de 2020 pela ONG União Internacional Protetora dos Animais, houve um crescimento de 400% na procura de cachorros e gatos em São Paulo. No Brasil, a busca aumentou cerca de 50% durante a pandemia, segundo dados da ONG Ampara Animal.

Não há dúvida que os pets trazem efeitos muito benéficos para os humanos. É comprovado que o contato com os bichinhos contribui na produção de endorfina e serotonina, que regulam o humor, sono, apetite e reduzem as taxas de cortisol, hormônio relacionado ao estresse. Além disso, um levantamento realizado pela Universidade de Azabu, no Japão, aponta que quando os humanos olham nos olhos dos pets, o nível de ocitocina, considerado o hormônio da felicidade, aumenta rapidamente.

Benefícios para as crianças

Crescer com animais domésticos pode trazer diversas vantagens. Um estudo elaborado pela Universidade de Oklahoma e Dartmouth  e Dartmouth, nos Estados Unidos, descobriu que crianças que convivem com cães têm menos probabilidade de sofrer ansiedade infantil. Outra pesquisa feita na Suécia, com mais de 1 milhão de crianças, revela que o contato com cachorros pode diminuir em 15% o risco de apresentar asma, além de influenciar positivamente no sistema imunológico e reduzir chances de desenvolvimento de alergias.

Os pets também contribuem para que as crianças sejam mais empáticas, atenciosas e solidárias. “Estar com um animal é  mais uma forma de relação para a criança, é um novo caminho para se relacionar e criar vínculos”, diz Natalia Visciglia, psicóloga, psicopedagoga e especialista em Terapia Assistida por Animais, no PetVida, em São Paulo. Natalia também destaca que o contato com animais pode contribuir para o amadurecimento e a evolução. “Ter um animal é saber que terá que levá-lo para passear, ir ao veterinário e tudo isso traz novos círculos de interação e socialização”, completa. 

Durante a pandemia, as crianças podem ficar ociosas e, com os pets, elas sabem que terão com quem interagir e brincar. Segundo Natalia, os bichinhos também fazem com que os pequenos se sintam mais acolhidos. “Muitas crianças humanizam os seus animais e se sentem seguras ao lado deles”, aponta.


A importância dos vínculos afetivos

“Os pets não só ajudam na redução da ansiedade, como também contribuem para este momento de falta de contato adequado. A criança tem uma sensação de afeto e carinho na presença do pet”, conta Ligio Francisco da Silva Chaves, membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Neste momento de distanciamento social, ter um animalzinho também pode estimular a amizade, a confiança e o senso de responsabilidade dos pequenos. 

“A falta de contato, principalmente para as crianças menores mas para adolescentes também, prejudica muitas áreas associadas ao nosso cérebro social. Isso traz prejuízos como atraso de linguagem, na fala ou mesmo na elaboração de situações de afetos mais bem organizadas”, explica o especialista. Além dos benefícios para a saúde emocional, os animais de estimação também ajudam no desenvolvimento cognitivo e das habilidades motoras.

Segundo ele, os pets não são uma solução completa para os desafios da pandemia e a ausência de contato externo, mas podem ajudar muito no sentimento de solidão. “Essa energia do brincar que o pet transmite tem um efeito muito bom para essa situação de estar sozinha”, afirma Ligio Chaves. Os bichinhos também preenchem o tempo livre da criança, o que pode afastá-las das telas. “Eu não consigo ver desvantagens, a não ser que a família não tenha um ambiente adequado e tempo para o cuidado do pet”, completa. 

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