Pais se mostram mais interessados nas conversas sobre parentalidade

Embora o abandono da parceira e do filho ‒ quando este tem uma deficiência ou doença rara ‒ seja comum, os que não fazem isso se posicionam cada vez mais publicamente, afirma a educadora parental Mônica Pitanga

Por: Mônica Pitanga / Canguru News

Pais devem ensinar os filhos a lidar com suas emoções para que, quando adultos, saibam gerenciá-las com sucesso

No mês de agosto, comemoramos o dia dos pais. A participação dos homens em grupos de WhatsApp que falam de filhos, nas reuniões de escola, nas pracinhas, nos consultórios médicos e hospitais e nos cuidados com as crianças ainda é minoritária.

O papel do pai não deveria ser o de ajudar a mãe ou ser rede de apoio, mas sim dividir com ela toda a responsabilidade que envolve a educação dos filhos.

Segundo dados divulgados pelo Instituto Baresi, em 2012, no Brasil, cerca de 78% dos pais abandonaram as mães de crianças com deficiências e doenças raras, antes dos filhos completarem 5 anos de vida. O motivo desse abandono, na maioria dos casos, é porque esses homens não conseguem suportar o luto da perda do “filho ideal” .

Mas, ao mesmo tempo, os que assumem a parentalidade ativa dos filhos com deficiência estão cada vez mais se posicionando nas redes sociais, blogs, podcast, livros e palestras. Aos poucos eles estão chegando para essa conversa sobre a parentalidade. Tenho atendido alguns casais que vêm juntos para as sessões de orientação parental. E é sempre muito bom quando isso acontece.

Em rodas de conversa com pais de crianças com deficiência, eles partilham suas histórias, como receberam o diagnóstico e como lidam com o tratamento e as limitações dos filhos. Há pais que gostam de construir brinquedos adaptados para uso pelo filho, outros procuram se informar mais sobre o assunto, lendo livros de educação inclusiva para ajudar a criança no momento em que terá de entrar na escola.

No geral, os homens costumam ser mais racionais e práticos e tendem a lidar com as mesmas situações de uma maneira diferente das mulheres.

No episódio 16, da terceira temporada da série This Is Us que está disponível no Amazon Prime, Toby e Kate têm um filho prematuro que nasce com 28 semanas e precisa ficar na UTI neonatal. Enquanto a mãe fica o tempo todo ao lado da incubadora, fazendo carinho, cantando, acompanhando o trabalho das enfermeiras, o pai se mostra muito angustiado e não consegue lidar com o fato do filho estar tão pequeno, cheio de sondas e cateteres, sendo toda hora manipulado pelas profissionais.

Em uma das cenas, onde a enfermeira está tirando sangue do bebê, ele enruga a testa, balança a cabeça num movimento de negação, fala que não está aguentando, pede desculpas e sai. Vai para a sala de espera e se abre com um outro pai, que também está com o filho no hospital há seis semanas. Os dois chegam à conclusão que “as mães são melhores nisso”

No final do episódio, Toby acaba reconhecendo que tem sido um pai ruim, pede desculpas a Kate e toma coragem de pegar seu filho “frágil” e cheio de fios no colo.

Nesse momento, quantos homens estão perdidos, sofrendo, sem ter coragem de falar o que estão sentindo e buscar ajuda?  Quantas mulheres se veem sozinhas nessa jornada e gostariam de contar com apoio financeiro, emocional e físico dos pais ?

Mães e pais podem ser treinadores emocionais dos filhos, ensinando para eles habilidades socioemocionais. Tais ensinamentos contribuem para que, no futuro, as crianças se tornem adultos seguros, confiantes, resilientes, que não fujam diante de situações desafiadoras, e sejam capazes de enfrentá-las com coragem e aprender com elas.

Se você deseja criar filhos melhores para o mundo, ensine-os a falar das emoções, acolher suas próprias necessidades e respeitar as necessidades dos outros. Como pais, temos um papel fundamental nesse processo.

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