O que dizer às mães do século 21?

8 renomados especialistas respondem a essa pergunta; entre as sugestões estão se cobrar menos, focar no autoconhecimento e investir na relação com o filho

Por: Verônica Fraidenraich / Canguru News

As mães precisam de mais acolhimento e menos cobranças

Se você tivesse que dar somente um conselho às mães de hoje, o que você diria?

A educadora parental Mikaela Ovén disse ser essencial focar na relação e na oportunidade do diálogo. Já a psicopedagoga Isa Minatel ressaltou a importância de escutar os filhos. Para a psicóloga Rosely Sayão, elas devem ignorar as críticas e, segundo o historiador Leandro Karnal, tanto a mãe quanto o filho têm de lembrar que estão em um aprendizado recíproco. Abaixo, leia os depoimentos na íntegra desses e de outros especialistas que participaram do 9° Seminário Internacional de Mães. A Canguru News pediu a todos que respondessem à mesma pergunta para compor esta matéria que visa homenagear todas as mães brasileiras neste mês de maio.

Foque na relação

Mikaela Övén – educadora parental, mãe de 3 filhos
“Nós estamos muito focados na forma certa de educar os filhos, mas o que temos que fazer é encontrar formas boas de nos relacionar com os nossos filhos, porque é na relação que encontramos a solução para os desafios que enfrentamos. E o que eu vejo ser o maior desafio de momento para as mães é precisamente um desafio relacional. O foco na relação, em vez da educação, cria muito mais solução. Então, o que nós precisamos fazer é criar a oportunidade de diálogo, de bons encontros com os nossos filhos. Nós tendemos muito a mandar, a dar ordens, a dizer o que é e o que não é para fazer, o que é certo e errado, mas muito mais importante do que isso é criar um encontro onde possamos dialogar sobre as nossas emoções, sobre as nossas necessidades e a forma como o outro pode contribuir para a satisfação das nossas necessidades. Isso vai dos dois lados. Eu como mãe devo dizer isso aos meus filhos e criar oportunidades para eles fazerem o mesmo para mim, porque tudo o que nós fazemos, todo o nosso comportamento existe para satisfazermos necessidades. Se nós só focarmos no comportamento, nunca saberemos quais são as necessidades. Para sabermos, precisamos falar, dialogar e criar estes momentos onde possamos falar sobre estas coisas sem julgamento, sem medo da de represálias, de castigos, de punição e com uma verdadeira presença com os nossos filhos.”

Ignore as críticas

Rosely Sayão – psicóloga – mãe de dois filhos – apresentadora do programa “Seus filhos”, na rádio BandNews FM junto com Thaís Dias
“Todas nós temos muitas batalhas, diariamente, e não devemos nos ater às críticas. A pessoa que faz críticas aos outros não olha para si mesma. A gente precisa buscar ser a melhor mãe possível, lembrando que cada mãe é um tipo muito diferente e todas têm de se ajudar. Procurem rede de apoio. Tentem formar um grupo na escola com alguns pais. É preciso também oferecer a mão quando a gente percebe que a outra mãe precisa. E aproveitem quando os filhos vão para a cama, que é mais tranquilo, para poder pensar como foi o dia, onde erramos, onde podemos melhorar, o que fazer diferente amanhã. É nesse momento que a gente constrói a educação dos filhos.”

Conheça os seus limites

Thaís Dias – jornalista – mãe de dois filhos pequenos, apresentadora do programa “Seus filhos”, na rádio BandNews FM junto com Rosely Sayão
“Eu diria para a mãe tentar ser o melhor que ela consegue. Talvez não seja o melhor daquela pessoa que está te olhando, que está te julgando. Isso não vai acabar com a culpa, mas você vai ter a certeza de que você fez tudo o que você podia fazer, tudo que você tinha capacidade de oferecer para o seu filho. E se conheça, conheça os seus limites, porque conhecendo o seu limite você vai poder não só conhecer mais o seu filho, dedicar a ele o tempo que ele precisa e merece, mas vai ensinar ele a conhecer os próprios limites também. A partir de seu exemplo, ele vai saber que existe um limite, que a mãe dele é visível e ele também é.”

Um aprendizado recíproco

Leandro Karnal – historiador, escritor e professor
“Toda mãe está em constante aprendizado e tudo bem se você não está bem. Seu filho é sempre uma experiência única. E ele vai ensiná-lo a ser mãe assim como você vai ensiná-lo a ser filho, é um aprendizado recíproco, e o segundo filho, se houver, vai ser completamente diferente. A mãe que você era há dez anos não é a mãe que você é hoje, porque o mundo muda constantemente e nós também, a todo instante, logo temos que aceitar isso. As coisas são novas e somos protagonistas, e no caso da mãe, temos de lutar contra uma tradição histórica que quer que a mãe tolere tudo e aceite tudo.”

Escute o seu filho

Isa Minatel – psicopedagoga – mãe de um filho
“Uma das coisas que me entristecem bastante quando eu olho para essa relação mãe e filho é quando as mães perguntam pra mim coisas que poderiam perguntar pros seus próprios filhos. É preciso lembrar que a sua criança é especialista sobre ela, mais do que eu. Embora eu fique feliz que as pessoas queiram minha opinião, e eu dou com muito prazer, com muito carinho, busco me capacitar para dar opiniões realmente sensatas, mas não deixe de escutar o seu filho. Entre a opinião de um especialista e sua criança, fique com a sua criança. Não se permita viver com um filho desconhecido, porque às vezes a gente leva a busca, traz, faz, acontece, alimenta, limpa, higieniza e não o conhece.”

Se cobre menos

Marcos Lacerda – psicólogo, criador do canal do Youtube Nós da questão
“A mãe precisa levar em conta que ela está dando o melhor dela, ela está fazendo o que ela pode. As mães precisam parar de se cobrar tanto. As mães não querem errar, mas vão errar, e elas precisam entender que elas estão dando o melhor que elas podem. E quando a gente dá o melhor que a gente pode, a gente dá amor. Isso, só isso, já basta. Quer ser uma boa mãe? Ame seu filho, o resto, seu coração lhe leva a fazer.”

Abrace o seu caminho

Adriana Araújo – jornalista, mãe de uma filha, autora do livro Sou a mãe dela
“Como mãe de uma estudante de Medicina e futura médica, que nasceu com uma deficiência física, uma síndrome ortopédica e fez dez cirurgias para poder caminhar, o que eu posso compartilhar com as mães que me ouvem, me acompanham, não é uma lição, é um sussurro de incentivo e esse sussurro diz para que você abrace o seu caminho. Nós temos que ser felizes com os desafios que a gente enfrenta, seguindo a jornada que é para cada uma de nós. Cada filho é de um jeito, não existem filhos que não terão em algum momento algum desafio, que não trarão pra gente uma encruzilhada, um momento de decisão, um momento de dificuldade. Cada mãe tem que conhecer o seu filho, se conectar com ele e abraçar o seu caminho. É um sussurro de incentivo pra gente seguir em frente.”

Aprenda a se amar primeiro

Camila Gentile -sexóloga – “Ser mãe é um grande desafio, é algo muito difícil, que retém muito tempo das mulheres, mas eu diria para elas não desistirem delas mesmas. Quando a gente aprende que temos que nos amar, a gente ama muito mais os nossos filhos e as nossas famílias.”

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