Que tal trocar o ‘eu avisei’ por ‘eu sinto muito’?

Pais costumam ser bons em resolver problemas, identificar e corrigir erros, mas muitas vezes esquecem do principal: a conexão, o amparo, o vínculo

Por: Patrícia Nolêto

Filhos! Sejam eles crianças, adolescentes ou adultos, o que importa é que eles precisam ter a certeza de que estaremos sempre ali.

Imagino que todo adulto já passou por algum momento na vida onde algo deu errado. Um, não. Vários. Afinal a vida é assim: feita de acertos e de erros. Muitas coisas dão certo, funcionam, evoluem, mas muitas outras dão errado, não funcionam e nos sentimos “involuindo”.

É assim na nossa vida adulta. Quem aqui já investiu em um projeto, um novo emprego, um relacionamento ou mesmo em uma amizade que não deu certo?

Às vezes, percebemos lá na frente que aquela escolha não foi como imaginávamos, ou “quebramos a cara”, ou percebemos que as nossas expectativas não estavam alinhadas com realidade.

E na adolescência?

Ah! A adolescência é um período da vida repleto de tentativas e consequentemente de erros. É aquele tão sonhado momento em que podemos fazer mais escolhas, ter mais liberdade e uma maior autonomia. Temos mais chances de errar, claro! Às vezes somos ingênuos, ou impulsivos ou imprudentes! E outras até fazemos tudo certinho, mas dá errado. Acontece, né?!

E se formos pensar na nossa infância?! Quantas coisas precisamos aprender quando éramos crianças? De coisas simples do nosso dia a dia – como tomar banho sozinho, arrumar a mochila da escola e fazer pequenas escolhas – a coisas complexas como aprender a andar de bicicleta, apresentar um trabalho na escola, se preparar para uma prova.

Provavelmente em muitos desses momentos, seja na infância, na adolescência ou até mesmo na vida adulta, você teve alguém por perto para te orientar, mostrar como fazer, dar sugestões ou simplesmente dizer como faria se estivesse em seu lugar.

Geralmente, quem está perto de nós, quer que as coisas deem certo, funcione, que a gente cresça e evolua nos nossos processos, seja de aprendizagem seja da vida. Mas e quando dá errado?

Recentemente acompanhei de perto duas situações em que eu presenciei algo dar errado. Uma delas com um adulto e a outra com uma criança. Aqui não importa muito exatamente o que aconteceu com cada uma dessas pessoas, mas de uma maneira geral as duas tiveram uma experiência de fracasso.

O adulto fez escolhas pensando que seria uma boa ideia, imaginou que estivesse resolvendo um problema e não entrando em uma furada. Quando tudo deu errado o que ele ouviu?

– “Eu avisei!”

A criança achou que estava preparada para fazer algo que nunca tinha feito, talvez ela nem tivesse capacidade para julgar, avaliar riscos e entender se realmente estava pronta. Quando ela caiu e se machucou, o que ela ouviu?

– “Eu avisei! É bom que agora aprende!”

Não estou aqui para comparar as consequências de um erro na vida de uma criança e na vida de um adulto, nem a capacidade que cada um tem para lidar com as consequências desses erros. Mas quero que você olhe para o que faltou nessas duas situações. Faltou empatia. Faltou acolhimento. Faltou generosidade. Faltou afeto. Faltou colo.

Depois desses acontecimentos, fiquei pensando o quanto é fácil sair da nossa boca um “eu avisei” quando um filho faz algo errado.

Às vezes, enquanto pais, somos muito bons em resolver problemas, identificar e corrigir erros, criticar, mostrar que estávamos certos e esquecemos daquilo que é mais importante: a conexão, o encontro, o amparo, o vínculo.

Desde que me tornei mãe eu tenho um mantra (mentira, na verdade tenho mil mantras!) que tento me lembrar sempre: Primeiro acolher, depois resolver! Primeiro acolher, depois resolver!

Confesso que nem sempre é fácil fazer isso. Mesmo sendo psicóloga e tendo o acolhimento como praticamente uma ferramenta de trabalho, sei que quando é com o filho da gente é preciso parar, respirar e repetir o mantra antes de abrir a boca. Assim quando eu for falar, ao invés de ouvir um “eu avisei”, a minha filha vai ouvir “eu sinto muito”.

Afinal quando o nosso filho erra - seja ele criança, adolescente ou adulto -, o que ele mais precisa é ter a certeza de que aconteça o que acontecer estaremos ali. Juntos! E que ele pode sempre contar com a gente.

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