Palmada funciona?

Embora possam funcionar a curto prazo, as palmadas se distanciam de estratégias como conversar, combinar consequências e responsabilizar, afirma a educadora parental portuguesa Magda Gomes Dias

Por: Magda Gomes Dias | Canguru News

É preciso respeitar a criança e usar o conhecimento que temos da vida para educá-la

Li, há uns anos, no blog de um pai, que as palmadas tinham benefícios. Que benefícios são esses eu não sei dizer, mas o que posso assegurar é que as palmadas funcionam. E nunca te direi o contrário. Funciona, sim! Pelo menos no curto prazo e até o dia em que o nosso filho nos diz, em tom de provocação: “Pode bater que não dói!”

Acredito que nenhum pai nem nenhuma mãe quer se chatear ou aborrecer com os filhos ao ponto de ter de bater neles. E se o faz é certamente porque aprendeu que bater funciona ou porque não tem outras estratégias. Mas tenho dúvidas de que a maior parte dos pais deseje usar as palmadas como estratégia de educação.

Pais e filhos são seres humanos inteiros e iguais e a única diferença é que os filhos estão a aprender. A nossa missão, enquanto pais é educá-los, fazê-los compreender quais são as regras da sociedade, torná-los saudáveis emocionalmente, corajosos, participativos e todas essas competências que um ser humano precisa ter.

Educar não é domesticar. Educar é humanizar.

Nesta humanização explicamos as regras e que as mesmas são para serem cumpridas mas também são para serem questionadas. Algumas são tão simples como não atirar a comida para o chão, a importância de se honrar compromissos, não atravessar no sinal vermelho ou ainda não bater ou chamar nomes.

Mas há sempre quem vá dizer que as palmadas são uma ferramenta educativa essencial. Ora, se as palmadas são a tal ferramenta educativa essencial, ao praticá-las estamos a faltar respeito à criança, não usando o conhecimento que temos da vida como oportunidade para ensinarmos. Mas estamos também a dizer que não temos ou não queremos usar outras estratégias como conversar, combinar consequências, responsabilizar.

Não quero dizer que é para deixar passar, mas sim que é necessário compormos um time com os nossos filhos. Repara que qualquer criança que esteja bem, que sabe o que fazer, e portanto, já tem alguma maturidade (o que não é característica das idades menores), tem vontade de cooperar, de ajudar e não de dificultar. É uma criança que se porta bem. Sim, fazem birras, fazem-nos sentir desafiados todos os dias, querem quebrar os limites, mas isso é parte de ser criança. Tal como é machucar os joelhos!

Usar as palmadas é faltar também ao respeito conosco e à imagem de pai ou de mãe que desejamos ser. Aposto que gostaríamos de ser melhores do que por vezes somos. A busca não é, contudo, a perfeição, mas a melhoria contínua. Consegue perceber a diferença?

As palmadas que mais doem são as mais injustas, aquelas em que nos “explodimos” e não fomos capazes de nos controlar. Por isso é que se diz que é absolutamente importante aprender sobre este tema, é importante termos uma rede de apoio e estratégias.

Porque educar não é um jogo de poder.

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