Quase 400 milhões de crianças menores de cinco anos – ou seis em cada dez crianças nessa faixa etária em todo o mundo – sofrem regularmente agressão psicológica ou castigo físico em casa. Dessas, cerca de 330 milhões são punidas por meios físicos, informa o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que reuniu dados de 100 países, entre 2010 e 2023. De acordo com a entidade, a educação violenta é defendida como método de criação dos filhos: pouco mais de 1 em cada 4 mães e cuidadores indicam que o castigo físico é necessário para criar e educar adequadamente as crianças.
“Quando as crianças são submetidas a abusos físicos ou verbais em casa, ou quando são privadas de cuidados sociais e emocionais de seus cuidadores, isso pode minar seu senso de autoestima e desenvolvimento”, disse a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell. “A criação carinhosa e lúdica pode trazer alegria e também ajudar as crianças a se sentirem seguras, aprenderem, desenvolverem habilidades e navegarem pelo mundo ao seu redor.”
Segundo o estudo, a agressão psicológica refere-se a ações como gritar, berrar ou xingar a criança com nomes ofensivos, como ‘burro’ ou ‘preguiçoso’. Já o castigo corporal é definido como sacudir a criança, bater-lhe ou dar-lhe uma bofetada com o objetivo de causar dor ou desconforto físico, mas não lesões.
Importância do brincar e das interações
A pesquisa foi divulgada durante o Dia Internacional da Brincadeira, em 11 de junho, criado em março deste ano pela Organização das Nações Unidas (ONU), e ainda destacou a falta de interação e estímulos em casa. Uma em cada duas crianças de quatro anos não consegue brincar com a pessoa que cuida dela, e uma em cada oito crianças com menos de cinco anos não tem nenhum brinquedo, revela o levantamento a partir dos dados de 85 países.
Isso significa que essas crianças podem experimentar negligência emocional e uma sensação de distanciamento, insegurança e problemas comportamentais que podem persistir na vida adulta.
Segundo a entidade, cada vez mais países estão proibindo castigos físicos contra crianças em casa. Mais da metade dos 66 países que proibiram a prática aprovaram leis nos últimos 15 anos, mas isso ainda deixa cerca de meio bilhão de crianças com menos de cinco anos sem proteção legal adequada.
Programas parentais podem beneficiar as crianças
Estudos mostram que programas de parentalidade baseados em evidências melhoram o cuidado, reduzem a violência familiar e os maus-tratos e melhoram a saúde mental das crianças e dos pais. Esses programas incluem treinamento em abordagens positivas, construção de relacionamentos fortes entre pais e filhos e apoio a brincadeiras, disciplina não violenta e comunicação.
O Unicef destacou três áreas fundamentais para garantir que todas as crianças cresçam se sentindo seguras e amadas:
- Proteção: Fortalecer os marcos legais e políticos que proíbem e acabem com todas as formas de violência contra crianças em casa;
- Apoio à parentalidade: Ampliar programas de parentalidade baseados em evidências que promovam abordagens positivas e lúdicas e previnam a violência familiar;
- Aprendizagem lúdica: Ampliar o acesso a espaços de aprendizagem e brincadeiras para as crianças, incluindo pré-escolas, escolas e parques.