Neste caso, estamos confundindo os termos e as ideias. Vamos analisar essa questão detalhadamente.
Antes de mais nada, é importante garantir que as regras estejam claras e que todos concordam com elas. As crianças podem decidir tudo? Elas só terão esse poder quando alcançarem a idade e a maturidade para isso. Veja alguns exemplos:
- Durante a semana, o horário de dormir é às 21h30min.
- Durante a semana, as tarefas de casa são feitas antes do jantar.
- Elas podem atravessar a rua sozinhas se respeitarem os sinais de trânsito (explicar de maneira concreta).
- A mesada é para ser gasta ao longo do mês, e o valor estipulado é baseado no que foi considerado adequado e justo.
- No fim de semana, elas podem brincar até mais tarde (especificar a hora) e levar os amigos para almoçar em casa.
Estas regras devem ser conversadas e, na maioria dos casos, precisam ser mantidas: Eu entendo que você gostaria de ficar acordado até mais tarde. Hoje é quinta-feira, e amanhã você pode ficar acordado até um pouco mais porque no sábado não haverá aula. No entanto, hoje o horário de dormir é 21h.
Não há problemas em uma criança demostrar descontentamento – é algo normal que ela precisa expressar. Como familiar, você só precisa reconhecer que esse comportamento é natural, desde que permaneceça firme e generoso, e usando até algumas das estratégias da comunicação positiva para se conectar com ela.
No entanto, negociar é uma habilidade valiosa que podemos (e devemos) ensinar a nossos filhos, sem diminuir nossa autoridade. O que realmente tira nosso poder é ser inconsistentes, agindo de uma maneira um dia e de outra no outro. E é com base nessa inconsistência que a criança decide se se adpata ou nao à rotina. Negociar não implica indefinição. Não negociar pode demonstrar inflexibilidade e insegurança em algumas situações. Veja alguns exemplos:
- Você prefere assistir a este filme ou jogar mais um pouco? Tudo bem! Hoje, pulamos a leitura da história.
- Quer ficar um pouco mais na casa do João? Hmmm.... eu ainda preciso preparar o jantar... Que tal fazemos o seguinte: podemos ficar um pouco mais e, quando chegarmos a casa, você me ajuda a colocar a mesa. Combinado?
- Você gostaria que eu aumentasse sua mesada? Eu gostaria muito fazer isso, mas infelizmente não tenho como. Por que você precisa de mais dinheiro? Vamos conversar sobre isso, entender a razão e pensarmos em maneiras de resolver essa situação.
Ao negociarmos, é importante escutar e fazer perguntas. Nesse momento é que atribuímos valor e significado a nossa relação com nossos filhos, um elemento fundamental na arte da negociação, que envolve atender às necessidades do outro. Mesmo quando não é possível ou não é do nosso interesse negociar, o simples fato de a outra parte se sentir compreendida cria proximidade e promove a cooperação, o que tem um valor inestimável.
Por isso, minha resposta para negociar uma situação é sim e não.
Sim, as regras devem ser mantidas, mas há exceções. Devemos negociar aquilo que é possível negociar (do meu ponto de vista, a segurança não é negociável, mas pode ser conquistada - atravessar a rua sozinho, subir em uma árvore etc.). Caso a negociação não seja possível, pelo menos, demos ouvir os argumentos da criança.
Não, negociar não nos tira poder nem nos fragiliza se formos coerentes e consistentes. Ou seja, não se pode dizer não hoje e sim amanhã, de maneira repetida. O ato de negociar deve ser ajustado às necessidades que vão aparecendo, isso quando é possível e desejável negociar. Por exemplo, um jovem de 16 anos deseja chegar em casa mais tarde do que o habitual, então talvez esteja na hora de negociar essa questão. Cada caso é um caso.
Sim, se negociarmos bem, oferecemos mais autonomia e responsabilidade às crianças, fazendo com elas se comprometam com sua parte do compromisso. Negociar bem e determinar certas condições nos torna pessoas justas e flexíveis, ou seja, tudo aquilo que muitos de nós desejamos ser enquanto pais.
Como você tem negociado em sua casa? Você abre exceções? Seu filho é insistente? Você consegue explicar a ele suas decisões? Você considera escutar as motivações e necessidades dele?