Nomear os sentimentos de uma criança é mesmo bom?

Se conectar com a criança e criar empatia pelo que ela sente é fundamental

Por: Mauricio Maruo /Canguru News

Com a ideia de que precisamos aprimorar a criação de nossos filhos, surge o conceito de ajudar a criança a lidar melhor com seus sentimentos

Essa é uma matéria que convida todos(as) a um pensamento e uma reflexão. Muito tem se falado sobre a importância de ensinar as crianças a nomear os seus sentimentos, mas será que isso é mesmo bom? Muitas pessoas vão falar que sim, afinal é importantíssimo que nossos filhos entendam quais são os sentimentos que estão descobrindo, mas, antes de começar, é importante destacarmos alguns pontos.

O que é nomear?

Se nos referimos a nomear como uma forma de entender o que a criança está sentindo, sim, isso é importante.

Mas nós realmente entendemos nossos sentimentos? Aliás, o que é um sentimento?

Existe uma lacuna muito grande em algumas gerações, por exemplo, aquelas que nasceram nos anos 1970. Naquela época, os pais não ensinavam os filhos a falar sobre os seus sentimentos. Ainda hoje, isso é algo relativamente novo, que nem todas as famílias estão habituadas a exercitar.

O problema moderno

Com a ideia de que precisamos dar uma criação melhor para nossos filhos, surge o conceito de ajudar a criança a lidar com os seus sentimentos. E o primeiro passo para isso é ensinar a criança a dar nomes a eles.

Sim, isso parece bem legal, mas o problema é que muitos pais conduzem o ensinamento de forma equivocada. Não é raro ouvirmos pais falando frases como:

  • Filho, isso que você está sentindo é medo, você precisa enfrentar seu medo.
  • Você está com raiva, tenta contar até 10 assim você acalma.
  • Isso é ansiedade, respire fundo e faça suas coisas mais devagar.

 

Quando dizemos a qualquer pessoa o que fazer com seus sentimentos, antes mesmo de se conectar com ela, por mais que a intenção seja boa é como se estivéssemos invadindo seu espaço emocional e enfatizando que a “solução” é mais importante do que o sentimento.

Isso talvez aconteça devido à forma moderna em que vivemos, onde estamos mais preocupados com os resultados do que com o processo.

No contexto da Comunicação Não Violenta (CNV), a investigação sobre a legitimidade das emoções faz com que você possa criar empatia pelo sentimento da outra pessoa. Afinal, segundo a CNV, todo ser humano é dotado da capacidade de sentir. Sendo assim, conseguimos criar empatia por meio dos mesmos sentimentos.

Quando dizemos frases como “enfrente seu medo” ou “fique calmo” estamos enfatizando o resultado (que talvez nós queremos que aconteça) e não dando atenção à construção do sentimento.

Imagine que você é uma criança e nunca viu uma abelha: está super curiosa observando uma, e então seu pai te fala:

  • Cuidado meu filho, ela pica e essa picada dói muito, não mexa com ela.

O que eu irei entender quando meu pai diz isso:

  • As abelhas são perigosas e elas picam. Se uma abelha voar para perto de mim, devo fugir pois não quero sentir dor.

Entendo que a preocupação com a segurança dos nossos filhos seja importante, mas será mesmo que uma abelha seja tão perigosa assim para enfatizar primeiro a sua picada e a dor? Ou podemos primeiro tentar investigar tudo que deixou nosso filho curioso para observar a abelha?

Então, é dessa forma bem comum que a maioria dos pais modernos está conduzindo o que chamamos de “nomear sentimentos”, falando somente o que ela está sentindo, sem explicar à criança o porquê dela estar sentindo, como esse sentimento surge e qual é reação corporal para identificar determinados sentimentos.

Se queremos ensinar nossos filhos a lidar melhor com suas emoções e sentimentos, devemos pelo menos tentar explicar a eles exatamente como é esse sentimento.

Como ajudar as crianças a entender os próprios sentimentos

A facilitadora de comunicação não violenta @marinademartinocnv dá abaixo algumas dicas corporais, que podem ajudar a criança a reconhecer melhor seus sentimentos, lembrando que algumas crianças, dependendo da idade, ainda não conseguem entender sentimentos muito complexos como “receoso”, “fragilizado” ou “gratidão”.

Medo: Sentimos um frio na coluna que vai até a nuca, ficamos meio que paralisados e os pêlos, principalmente dos braços, se arrepiam.

Ansiedade: Sentimos o coração bater mais rápido e não conseguimos ficar muito parados.

Chateado: Os olhos parecem que ficam caídos e o rosto automaticamente olha para baixo.

Feliz: Sentimos nosso rosto sempre querendo rir e nossa respiração fica mais profunda.

Vergonha: Não conseguimos olhar direto para o que nos causou a vergonha, sempre tentamos nos esconder e nosso rosto parece que fica quente.

Histórias ou referências podem ajudar na identificação das emoções

Toda criança tem uma memória fantástica e também um poder de observação fabuloso. Então lembrar de casos que ela já presenciou sobre as reações emocionais de algum parente ou amigo é bem interessante, podendo até levar a uma investigação sobre a origem do sentimento daquela pessoa para aquele determinado momento.

Convite para aprender com o seu filho

Se você está disposto a entender e a legitimar os sentimentos do seu filho, (sem enfatizar primeiro a solução), tente explicar a ele como esses sentimentos nascem. Aproveite para aprender junto com seu filho como nomear os seus próprios sentimentos. Certamente, será um grande aprendizado para todos.

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